Treinamento
Defensivo no Futsal
Bacharel em Treinamento Esportivo pela Faculdade de
Educação Física da Universidade Estadual de Campinas.
Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Física e Cultura
(Grupo cadastrado ao CNPq e coordenado pelo Prof. Dr. Jocimar Daolio -
Faculdade de Educação Física da Unicamp)
Técnico de Futsal
Educação Física da Universidade Estadual de Campinas.
Integrante do Grupo de Estudo e Pesquisa Educação Física e Cultura
(Grupo cadastrado ao CNPq e coordenado pelo Prof. Dr. Jocimar Daolio -
Faculdade de Educação Física da Unicamp)
Técnico de Futsal
Resumo
O treinamento esportivo ainda é, em sua maioria, baseado na repetição de gestos técnicos, tanto nas modalidades individuais quanto nas modalidades coletivas. No caso dos Jogos Desportivos Coletivos este método dificulta o desenvolvimento da inteligência e cooperação entre os jogadores por exigir o "como fazer" desvinculado das "razões do fazer". Nesse sentido, este artigo propõe uma metodologia para o treinamento defensivo no futsal baseada numa abordagem proposta por Júlio Garganta e centrada nos jogos condicionados (jogos reduzidos), privilegiando o desenvolvimento tático coletivo.
Unitermos: Futsal. Treinamento esportivo. Métodos.
O treinamento esportivo ainda é, em sua maioria, baseado na repetição de gestos técnicos, tanto nas modalidades individuais quanto nas modalidades coletivas. No caso dos Jogos Desportivos Coletivos este método dificulta o desenvolvimento da inteligência e cooperação entre os jogadores por exigir o "como fazer" desvinculado das "razões do fazer". Nesse sentido, este artigo propõe uma metodologia para o treinamento defensivo no futsal baseada numa abordagem proposta por Júlio Garganta e centrada nos jogos condicionados (jogos reduzidos), privilegiando o desenvolvimento tático coletivo.
Unitermos: Futsal. Treinamento esportivo. Métodos.
Resumen
El entrenamiento deportivo todavía está, mayormente, basado en la repetición de gestos técnicos, tanto en las modalidades individuales como en las modalidades colectivas. En el caso de los Juegos Deportivos Colectivos este método impide el desarrollo de la inteligencia y cooperación entre los jugadores por exigir "el como hacer'' desvinculado de "las razones de hacer". En ese sentido, este artículo propone una metodología para el entrenamiento defensivo en el fútbol de sala, basado en una propuesta de Julio Garganta y centrada en los juegos condicionados (juegos reducidos), privilegiando el desarrollo táctico colectivo.
El entrenamiento deportivo todavía está, mayormente, basado en la repetición de gestos técnicos, tanto en las modalidades individuales como en las modalidades colectivas. En el caso de los Juegos Deportivos Colectivos este método impide el desarrollo de la inteligencia y cooperación entre los jugadores por exigir "el como hacer'' desvinculado de "las razones de hacer". En ese sentido, este artículo propone una metodología para el entrenamiento defensivo en el fútbol de sala, basado en una propuesta de Julio Garganta y centrada en los juegos condicionados (juegos reducidos), privilegiando el desarrollo táctico colectivo.
Palabras clave: Fútbol sala. Entrenamiento deportivo. Métodos.
Abstract
The majority of sports training are still based on the technical repetition of gestures, as well as in individual modalities and collective modalities. In the case of Collective Sports Games, it is more complicated to develop intelligence and cooperation between the players because the players disentail their reasonings. In that sense, this article proposes a methodology for defensive training in futsal. This approach is based on a proposal by Júlio Garganta, focusing on conditiong games (limited games), and privileging the collective tactical development.
Keywords: Indoor Soccer. Sports training. Methodology.
1. Introdução
O futsal é uma modalidade classificada
de Esporte Coletivo ou Jogo Desportivo Coletivo por possuir as seis invariantes
atribuídas a esta categoria e enunciadas por Bayer (1994): uma bola ou
implemento similar, um espaço de jogo, adversários, parceiros, um alvo a atacar
e outro para defender e regras específicas.
Estar dentro desta categoria implica,
além de possuir as invariantes, apresentar certas similaridades com outras
modalidades que também se enquadram nesta classificação, como o futebol, o
basquetebol, o handebol, o pólo aquático entre outras. Estas similaridades
foram nomeadas por Bayer (1994) de princípios operacionais, que se dividem em
três princípios de ataque e três de defesa. Os de ataque são: conservação da
posse de bola, progressão em direção ao alvo adversário e a finalização,
buscando o ponto ou gol. Os princípios de defesa são: recuperação da bola,
impedimento da progressão da equipe adversária e proteção do próprio alvo.
Praticar um esporte coletivo é saber
jogar tanto mais sem a bola quanto com a posse dela. Sem a bola, o jogador
precisa se movimentar em busca de espaços para ele próprio e para seus
companheiros, principalmente para o companheiro que porta a bola, tornando-se
opção de passe e procurando oportunidades de finalização. Na defesa, todos
precisam estar sintonizados para fechar os espaços adversários, mas também
estarem atentos para cobrir os espaços deixados pelos companheiros que falharam
em sua função, pois a defesa, assim como o ataque é de missão coletiva
(Balbino, 2001).
Bota & Colibaba-Evulet (2001) e
Balbino (2001) abordam o Jogo Desportivo Coletivo como um sistema que se
auto-organiza constantemente dentro de um movimento cíclico de equilíbrio e
desequilíbrio. Assim, os jogadores procuram estabelecer e privilegiar o padrão
ofensivo ou defensivo de sua equipe, na contrapartida das ações de seus
adversários, que se movimentam na mesma proporção, a fim de buscar o
desequilíbrio das ações ofensivas e defensivas dos oponentes. Por isso, os
grandes jogadores dos esportes coletivos são aqueles que exibem a habilidade de
jogar, também, sem a posse de bola (Balbino, 2001).
Garganta (1995) acredita que, por todas
estas características, existem dois traços fundamentais para a prática dos
esportes coletivos: a cooperação, entendida como a comunicação dentro de
sistemas de referências comuns por uma sintonia nas ações do grupo, em relação
ao objetivo do jogo; e a inteligência, concebida como capacidade de adaptação
às situações-problema que ocorrem pela imprevisibilidade do jogo.
Em virtude desta imprevisibilidade
existente nos Jogos Desportivos Coletivos, Graça (1995) apresenta duas ordens
de problemas implicadas no processo de aprendizagem. Uma está relacionada à
seleção da resposta adequada à situação (o quê, o quando e o porquê). A outra
pauta-se na resposta motora (o como). São os questionamentos que os sujeitos
fazem para si mesmos é que trazem a ação externa para seu mundo interior
(Freire, 1996). Neste contexto, a aprendizagem baseada nas habilidades
fechadas, ou seja, na excessiva preocupação com a técnica em um ambiente
estável e previsível, "(...) transforma-se num fim em si mesmo,
perdendo sua conexão com a aprendizagem do jogo" (Graça, 2003, p.17).
É importante que os jogadores estejam sempre em contato com a natureza aberta
das habilidades em função da exigência do jogo, em que a capacidade perceptiva,
a antecipação e a tomada de decisão desempenham papel crucial (Graça, 1995;
Souza, 1999).
Na mesma direção, Tavares (1995)
defende que a atuação do treinador e a estruturação do treino devem
proporcionar que os praticantes entendam a "intenção tática" (o que
deve ser feito) antes da "modalidade técnica" (como deve ser feito),
para que as ações escolhidas pelos jogadores estejam de acordo com a
antecipação das ações que os adversários têm intenção de aplicar.
A bibliografia específica do futsal
apresenta duas polaridades distintas. Uma composta de autores como Santana
(2001), com sua metodologia da participação e Souza (1999) com uma proposta de
avaliação e metodologia do conhecimento tático, que caminham mais próximos
dessa nova concepção de ensino-aprendizagem-treinamento em esportes coletivos.
Na outra polaridade estão os autores (Garcia & Failla, 1986; Lucena, 1994;
Mutti, 1994) que apresentam uma visão muito tecnicista, dando grande ênfase a
formas corretas de realização dos gestos técnicos específicos da modalidade e a
jogadas treinadas (ensaiadas) em ambiente previsível, supondo a ação dos
adversários.
Nesse sentido, este texto propõe uma
metodologia para o treinamento defensivo no futsal baseada numa abordagem
Centrada nos Jogos Condicionados1 (Garganta, 1995), que segundo o
autor, apresenta as seguintes características: decomposição do jogo em unidades
funcionais - jogo sistemático de complexidade crescente; os princípios do jogo
regulam a aprendizagem. As conseqüências desta abordagem são: as técnicas
surgem em função da tática, de forma orientada e provocada; estímulo à
inteligência tática, com a correta interpretação e aplicação dos princípios do
jogo; viabilização da técnica e criatividade nas ações de jogo.
Antes de entrarmos na descrição do
método, passaremos por um breve histórico da origem do futsal e pelos sistemas
táticos utilizados na modalidade.
2. O Futsal no Brasil
O Brasil é o país do futsal tanto
quanto do futebol, principalmente em relação à prática deste esporte. A
identificação do povo brasileiro com o futebol, as muitas quadras públicas ou
particulares existentes, a grande utilização do futsal nas aulas de educação
física e o número reduzido de jogadores necessários a prática desta modalidade
são alguns dos fatores que contribuem para sua importância em nosso país.
O Brasil é potência mundial no futsal,
mais até que no futebol. Os títulos demonstram isso. São cinco títulos mundiais
nos sete disputados (vice nos outros dois) e doze títulos sul-americanos em
doze disputados, fora os outros vários títulos conquistados pela seleção
principal e pelas demais categorias (Confederação Brasileira de Futebol de
Salão, 2004).
A origem do futsal, ao contrário do que
muitos pensam, pode não ter ocorrido nessas terras. Alguns acreditam que o
futebol de salão surgiu no Uruguai, sendo redigidas as primeiras regras em
1933, pelo Prof. Juan Carlos Ceriani e fundamentadas no futebol (essência),
basquetebol (tempo de jogo), handebol (validade do gol) e pólo aquático (ação
do goleiro). E só a partir de um curso na ACM2 de Montevidéu, que
contou com a presença de representantes das ACMs de toda a América Latina,
entre eles alguns brasileiros (João Lotufo, Asdrúbal Monteiro, José Rothier) é
que cópias das regras foram distribuídas e, posteriormente, trazidas e
divulgadas no Brasil (Santana, 2004).
Outra corrente, liderada por Luiz
Gonzaga Fernandes, defende que o futebol de salão surgiu no Brasil, no final de
1930, na ACM (SP) onde era praticado por jovens - considerados os precursores
do esporte - a título de recreação. Esta corrente acredita que se jogava
futebol em quadra também no Uruguai, mas que não passava de "pelada"3
e que a primeira regulamentação da modalidade ocorreu no Brasil (Santana,
2004).
Muitas mudanças ocorreram desde a
criação do esporte. Mudanças nas regras, na dinâmica do jogo e, até mesmo, na
nomenclatura da modalidade. A FIFA4 tem certa influência nisto, pois
ao se interessar por um novo "mercado" que se abria, fundiu o futebol
de cinco, praticado na Europa com o futebol de salão para criar o FUTSAL. O
futebol de salão, ainda existe sob a tutela da FIFUSA5 , primeira
entidade internacional existente para o futebol praticado em quadras, mas o
maior poderio da FIFA acaba sucumbindo tal entidade (Santana, 2004).
Apesar destas divergências, é
imensurável a contribuição brasileira para a evolução da modalidade. Hoje,
incluindo o Brasil, mais de 130 países são filiados a FIFA, que detêm o futsal
sob seu domínio desde a década de 1980 (Santana, 2004).
3. Os Sistemas Táticos
O termo sistema tático é utilizado para
descrever o posicionamento dos jogadores em quadra de acordo com a função
exercida por cada um. Este posicionamento tático está intimamente relacionado
às ações dos adversários (Balbino, 2001; Bayer, 1994; Bota &
Colibaba-Evulet; 2001). É importante lembrar que a dinâmica do futsal é muito
complexa e a troca de funções entre os jogadores é constante, pela exigência de
uma intensa movimentação. As equipes costumam modificar seu sistema tático
dentro de uma mesma partida, em virtude de possível ineficiência diante do
sistema utilizado pelo adversário.
3.1. Sistema 2x2
Sistema pioneiro, surgido na década de
1950 (Lucena, 1994), que se caracteriza pelo posicionamento de dois jogadores
na meia quadra defensiva e de outros dois na meia quadra ofensiva. É um sistema
bem simples e que exige pouca movimentação dos jogadores. Os dois de trás são
responsáveis pela defesa enquanto os dois da frente, pelo ataque (Lucena, 1994;
Mutti, 1994; Souza, 1999). Ocorrem poucas trocas de posições, e
conseqüentemente, de funções. É um sistema mais estático em relação aos outros.
Segundo Souza (1999), este sistema é mais utilizado em faixas etárias menores,
devido ao baixo nível de complexidade e facilidade de execução. Mas equipes de
alto nível também o utilizam em determinados momentos de um jogo.
3.2. Sistema 3x1
O sistema 3x1 é responsável pela
nomenclatura das posições adotadas no futsal. Além do goleiro temos o fixo, os
alas (direito e esquerdo) e o pivô. É um sistema de movimentações bem mais
complexas que o anterior (Garcia & Failla, 1986; Lucena, 1994; Mutti, 1994;
Santana, 2001; Souza, 1999).
O pivô tenta "despistar" ou
"tomar a frente" do seu marcador para receber a bola de seus
companheiros na meia-quadra ofensiva. Os alas e o fixo realizam movimentações
para criarem espaços onde a bola possa ser lançada ao pivô, que joga de costas
para o gol adversário e, por isso, tenta dominar e preparar a bola para seu
companheiro ou, dependendo da situação, girar em cima de seu marcador para
finalizar a gol. Esta movimentação realizada pelo fixo e pelos dois alas é
denominada rodízio. Com o rodízio uma equipe mantém a posse de bola até o
momento ideal de tocá-la ao pivô ou finalizar (Lucena, 1994; Mutti, 1994;
Souza, 1999).
As funções são definidas para cada
posição:
·
Fixo: último homem da defesa. Responsável pela proteção da meta e
armação das jogadas (Lucena, 1994; Souza, 1999);
·
Alas: elos de ligação entre a defesa e o ataque (armação), auxiliares do
fixo na contenção do ataque adversário e do pivô nas finalizações (Lucena,
1994; Souza, 1999);
·
Pivô: ponto de referência das jogadas ofensivas. Responsável pelas
assistências aos companheiros, por finalizações a gol e pela flutuação central
na marcação, fechando o meio da quadra e impedindo o lançamento para o pivô
adversário (Lucena, 1994; Souza, 1999).
Este sistema apresenta constantes
movimentações e trocas de posições e funções, principalmente por parte dos três
armadores: o fixo e os dois alas. O pivô, por sua vez, apresenta uma função
mais definida, ficando quase sempre na meia-quadra ofensiva e, portanto, fora
destas trocas, ou melhor, do rodízio.
3.3. Sistema 4x0
Sistema criado pelas equipes européias,
principalmente as espanholas. É o sistema mais complexo que existe, porém se
assemelha muito ao sistema 3x1. A diferença mais significativa é que o pivô
também entra no rodízio (Lucena, 1994). Isto faz com que os jogadores se
revezem no exercício das funções de acordo com a situação do jogo e de seu
posicionamento em quadra. Sempre haverá um fixo, dois alas e um pivô, porém
eles se alternam em virtude do rodízio. É um sistema onde as trocas de funções
são tão constantes quanto as movimentações, criando e preenchendo os espaços
vazios e, assim, dificultando a marcação da equipe adversária.
3.4. Sistema 3x2
Originado pela mudança na regra que
possibilitou a utilização do goleiro para a armação das jogadas. O
posicionamento dos jogadores de linha é bem próximo do sistema 2x2. A mudança é
que o goleiro deixa a área e posiciona-se entre os dois defensores, sendo o
último homem. Os dois atacantes ocupam a meia-quadra ofensiva e se cruzam à frente
do goleiro adversário, atrapalhando sua visão. Os defensores também se
posicionam na meia-quadra ofensiva, logo após a linha divisória para receberem
a bola e ainda terem a opção de passe para o goleiro6 . Defensores e
atacantes também trocam de posição para confundir a defesa adversária. Neste
sistema o goleiro deve possuir boa técnica com os pés.
4. Os Sistemas Defensivos
A essência do sistema defensivo repousa
na constante busca de adaptação às características do ataque adversário, para a
execução da defesa propriamente dita (recuperação da posse de bola), que pode
ser centrada nas movimentações da bola, chamada defesa por zona, ou nas
movimentações do individuo, chamada defesa individual (Bayer, 1994). A Marcação
Individual pode ser realizada em toda quadra (pressão) ou na meia-quadra
defensiva (meia pressão). Já a Marcação por Zona é sempre realizada na
meia-quadra defensiva e apresenta duas variações no futsal - Losango (3x1) ou
Quadrado (2x2) (Mutti, 1994).
Para auxiliar a explicação destes
diferentes sistemas defensivos a quadra será dividida em três áreas e as duas
primeiras áreas em três zonas, conforme a figura 1.
A escolha por um destes sistemas
defensivos depende das características dos jogadores da equipe, do sistema
tático utilizado pelo adversário e da situação do jogo. Por estes motivos
torna-se importante o treino de todas as variações defensivas.
Fig.1 -A quadra é dividida em três ÁREAS e as duas primeiras áreas em três ZONAS
4.1. Marcação Individual
A marcação individual caracteriza-se
pelo confronto direto entre dois jogadores, o chamado homem-a-homem (1x1). Há
uma definição prévia de marcação, onde cada jogador fica responsável pela
marcação de um adversário (Mutti, 1994), fato que "força" o
virtuosismo técnico, o individualismo. O posicionamento da equipe defensora é
em função dos jogadores adversários. Esta marcação pode ser realizada na quadra
toda ou somente na meia-quadra defensiva.
Pontos positivos:
·
Diminui a opção do passe, forçando o erro adversário;
·
Maior desgaste físico dos adversários pela necessidade de maior
movimentação em busca de espaços;
·
Dificulta o chute de longa distância;
·
Reduz o tempo de posse de bola do adversário;
·
Diminui o tempo de reação do adversário para refletir sobre a jogada.
Pontos negativos:
·
Grande desgaste físico dos defensores, proporcional à movimentação dos
atacantes;
·
Abre o meio da quadra, facilitando lançamentos, infiltrações e
"bolas nas costas";
·
Dá maiores possibilidades de vantagem numérica ao adversário, na
ocorrência de um drible, dificultando a recuperação e a cobertura.
4.1.1. Marcação Pressão
Diferentemente da marcação por zona que
espera o erro adversário para pressionar, a marcação pressão pressiona para
forçar o erro. Esta marcação é a única caracterizada pelo avanço dos defensores
até a Área 3 (Área de Ataque).
Sua utilização ocorre quando a equipe
está em desvantagem no placar e o jogo está próximo do fim; quando a equipe
adversária apresenta dificuldades de movimentação ofensiva (capacidade técnica
e/ou tática inferior) a fim de pressionar para não deixá-los jogar; ou quando
um time possui um elenco de jogadores ágeis, rápidos e em ótima forma física
(Mutti, 1994).
Cada jogador fica responsável por um
adversário e o "persegue" por toda a quadra, pra onde quer que ele se
desloque (marcação homem-a-homem). É importante esperar a reposição de bola do
goleiro para depois avançar pressionando, pois o avanço prematuro facilitará o
lançamento de bola do goleiro para o pivô diretamente.
4.1.2. Meia Pressão
É uma marcação parecida com a marcação
pressão, porém os defensores não invadem a Área 3 (Ataque). Eles esperam os
adversários na Área 2 encostando, seguindo e diminuindo o espaço dos atacantes
a partir daí.
Somente o homem de posse da bola é
pressionado (Mutti, 1994). Isto diminui o desgaste físico dos defensores em
relação à marcação pressão, mas aumenta o tempo de reação dos atacantes.
Cada defensor fica responsável por um
adversário (homem-a-homem também), mas, além disso, precisa fechar o meio (Zona
C2) quando não estiver marcando o homem da bola.
Às vezes podem ocorrer trocas de
marcação, em virtude do rodízio da equipe adversária, mas estas devem ser bem
comunicadas pela equipe.
4.2. Marcação por Zona
Marcação caracterizada pelo
posicionamento à meia-quadra, ou melhor, nas Áreas 1 e 2 (Defesa e
Intermediária) - sempre atrás da linha da bola; pelas constantes trocas de
marcações; e pela espera do erro adversário para roubar a bola e contra-atacar.
Na maioria das vezes, estes contra-ataques são perigosos, pois pegam a defesa
adversária desestruturada - na transição do posicionamento ofensivo para o
defensivo. Neste tipo de marcação, cada defensor é responsável por determinada
zona da quadra e pelo adversário que estiver nela (Mutti, 1994). O
posicionamento dos defensores ocorre em função do deslocamento da bola (Bayer,
1994).
É uma marcação utilizada quando a
equipe adversária apresenta rápida e complexa movimentação, tem bons
passadores, ótima técnica e condução de bola, um bom nível de treino ou quando
o placar é desfavorável aos adversários.
Pontos Positivos:
·
Facilita a cobertura e a recuperação no caso do drible;
·
Menor desgaste físico dos defensores;
·
Proporciona perigosos contra-ataques;
·
Impossibilita as "bolas nas costas";
·
Fecha o meio de quadra (Zonas C1 e C2);
Pontos Negativos:
·
Possibilita o chute de longa distância;
·
Aumenta o tempo de posse de bola do adversário;
·
Encobre parcialmente a visão do goleiro.
4.2.1. Losango ou 3x1:
Marcação utilizada contra equipes que
utilizam o sistema tático 3x1 ou 3x2.
O ala esquerdo cobre as zonas E1
e E2. O ala direito a zona D1 e D2. Já o fixo e o
pivô cobrem uma área cada um, C1 e C2
respectivamente. (Fig. 2)
Os alas devem fazer o
"balanço" como os laterais do futebol de campo, ou seja, em caso de
bola na ala oposta, eles recuam até sua zona correspondente na Área 1. Já
quando a bola estiver na sua ala, eles avançam à Área 2. Exemplo: bola na ala
direita - ala direito zona D2 / ala esquerdo zona E1.
Bola na ala esquerda - ala direito zona D1 / ala esquerdo zona E2.
O pivô deve fechar o meio (zona C2)
impedindo que a bola seja lançada ao pivô adversário. Se isto acontecer ele
deve voltar e fazer sanduíche no adversário, juntamente com o fixo do seu time.
O fixo, além de estar preocupado com o pivô adversário, precisa estar sempre
atento à cobertura dos outros jogadores, pois é o último homem
Fig 2. Posicionamento em função da bola
4.2.2. Quadrado ou 2x2:
Marcação utilizada contra equipes que
jogam no sistema 2x2 ou 4x0.
Nesta marcação dois jogadores
posicionam-se na Área 1, um na zona E1 e outro na zona D1.
Os outros dois jogadores ficam nas zonas E2 e D2.
Juntos, eles formam um quadrado imaginário.
Os jogadores posicionados na Área 2
fazem uma movimentação pendular: enquanto um vai na bola, o outro fecha o meio
(intercessão entre as zonas E2 e D2) aquém da linha
do primeiro (Fig. 3). Já os dois posicionados na Área 1, mantém suas posições e
encostam nos adversários que "adentram" sua zona.
Fig 3. Movimentação pendular.
5. Metodologia sugerida
Para o treino da Marcação Individual
são utilizados os jogos reduzidos em igualdade numérica: 1x1; 2x2; e 3x3.
Lembrando que o 4x4 no futsal é a expressão do jogo formal desta modalidade,
portanto não é utilizado como jogo reduzido.
A igualdade numérica força cada
marcador a acompanhar um jogador adversário por todo o espaço delimitado. Se
eles não o fizerem, ou melhor, não definirem a marcação, pararem ou marcarem
somente a bola, os atacantes levarão vantagem, já que um ficará livre.
No 1x1 a única opção é o confronto
direto. É o atacante contra o defensor, a forma mais simples de marcação. Já no
2x2 e 3x3 acontecem algumas trocas de marcação pela movimentação dos atacantes,
com isso os defensores precisam responder rapidamente às situações problemas que
se apresentam.
Para a Marcação Zona, os jogos
reduzidos utilizados são os de superioridade numérica: 4x2; 3x2; 3x1; 2x1; 4x3;
5x3; e 5x4. Lembrando que no 5x3 e no 5x4 o quinto elemento deve ser o goleiro.
O 4x3 e o 5x3 são situações que ocorrem em jogos onde uma das equipes tem um
jogador expulso.
A superioridade numérica forçará a
Marcação Zona, pois os defensores não podem sair pressionando o portador da
bola a qualquer momento, fato que facilitaria a ação dos atacantes. Eles
precisam fechar os espaços e esperar o momento certo de "dar o bote"7
. Assim a movimentação dos defensores ficará pautada mais em função do
deslocamento da bola do que dos adversários (Zona).
Os jogos reduzidos com dois defensores
(3x2 e 4x2) facilitam a aprendizagem da Marcação Quadrado, já que os defensores
utilizarão a movimentação pendular (Fig. 4).
Fig 4. Movimentação pendular no 3x2
A Marcação Losango é melhor trabalhada
nas demais situações, com ênfase na movimentação do pivô na Zona C2
(2x1 e 3x1) ou na marcação triangular realizada em conjunto pelo pivô e os dois
alas (4x3 e 5x3) ou, ainda, na transformação do triângulo em losango com a
adição do fixo (5x4) (Fig. 5).
Fig 5. A-Pivô na Zona C2; B-Marcação triangular; C-Losango
Variações podem ser feitas para alterar
a dinâmica e os objetivos das atividades. O espaço de jogo pode ser reduzido
para facilitar a ação dos marcadores ou aumentado para dificultá-las. O tempo
de jogo pode ser aumentado para enfocar o trabalho de movimentação dos
atacantes ou diminuído para exigir uma finalização rápida.
Todos os jogadores devem passar por
todas as posições em todos as situações treinadas. Para ajudar na compreensão
das diferentes formas de marcação, o treinador deve parar o treino na
ocorrência de algum fato significante e discuti-lo com os jogadores, dando
dicas e esperando que eles mesmos encontrem a resposta. A utilização da
prancheta magnética também é uma ótima ferramenta auxiliar. A visualização de
fatos ocorridos, da delimitação das zonas e de simulações na mesma, possibilita
e facilita a tomada de consciência por parte dos jogadores quando eles
estiverem dentro da quadra. Posteriormente pode-se realizar na quadra as
movimentações feitas na prancheta.
6. Considerações finais
O treinamento baseado na repetição de
gestos precisa ser repensado no caso dos esportes coletivos. Repensado e não
negado. O treino técnico é muito importante para melhorar a performance do
atleta, mas nos jogos desportivos coletivos, ele deve vir em menor escala,
dando espaço para o desenvolvimento da inteligência tática.
Nesta questão, a abordagem centrada nos
jogos condicionados proposta por Garganta não deve se restringir somente ao
âmbito escolar, mas também ser utilizada no âmbito do treinamento esportivo.
Principalmente porque a relação treinador-atleta não deixa de ter similaridades
com a relação professor-aluno e o aspecto educacional nunca deixará de existir.
A incorporação dos processos de
percepção, tomada de decisão, atenção e concentração dentro do processo de
ensino-aprendizagem-treinamento, acontece gradativamente nas unidades
funcionais decompostas do jogo formal, ou melhor, nos jogos reduzidos, que
potencializam o contato do jogador com a imprevisibilidade do jogo.
Esta imprevisibilidade é a essência dos
jogos desportivos coletivos e também precisa ser a essência dos treinamentos.
Os jogadores precisam ter suporte para resolver os problemas que eles encontram
na ação de jogar. Não basta somente falar aos jogadores a forma como eles irão
se portar em quadra. Eles precisam vivenciar.
Cabe ao treinador desenvolver suas
sessões de treino com o objetivo de desenvolver a inteligência e a cooperação
entre os atletas, pois uma boa equipe não é constituída pela somatória de
talentos individuais, e sim pela sintonia e compreensão coletiva entre os
jogadores.
Notas
1. Neste artigo será
utilizado o termo "Jogos Reduzidos" para esta abordagem.
2. Associação Cristã de
Moços.
3. Nomenclatura
utilizada para o futebol jogado informalmente.
4. Federação
Internacional de Futebol Associado.
5. Federação
Internacional de Futebol de Salão.
6. É marcada infração
quando o goleiro, após dar um passe, recebe a bola de seu companheiro antes
dela ter ultrapassado completamente a linha do meio da quadra ou tiver tocado
em um adversário.
7. Gíria utilizada no
futebol quando o defensor pressiona o atacante. Relacionada à ação de uma cobra
para capturar sua presa. A eficácia ou ineficácia deste ato ocasiona
"botes certeiros" ou "botes errados".
Referências Bibliográficas
·
BAYER, C. O ensino dos desportos coletivos. Lisboa, Dinalivro,
1994;
·
BALBINO, H. Jogos desportivos coletivos e os estímulos das
inteligências múltiplas. Dissertação de mestrado. Faculdade de Educação
Física - UNICAMP, Campinas 2001;
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BOTA, I. & COLIBABA-EVULET, D. Jogos desportivos coletivos:
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·
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FREIRE, J. B. Esporte Educacional. In: C. A. Barbieri et al. & A. F. Bittar et. Al. (Orgs.) Esporte educacional:
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revista digital · Año 10 · N° 77 |
Buenos Aires, Octubre 2004
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